Entrevista do Dr Claudio Ambrosio para a Revista Casa e Jardim Globo.com

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O que o seu corpo quer dizer quando você sente vontade de comer algo específico
Sente vontade de comer tudo o que vê pela frente? Descubra por quê

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O que o seu corpo quer dizer quando as vontades de comer determinado alimento aparecem? 
Existem vontades inexplicáveis que pintam nas nossas mentes. Ficamos pensando intensamente em comer determinado tipo de alimento, até que termos a chance desfrutar de uma boa refeição para atender nossos anseios.
Para entender o por quê disso, precisamos analisar, em primeiro lugar, a fome. “Quando ficamos algumas horas sem se alimentar, os níveis de glicose, de nutrientes, dos hormônios insulina e leptina ficam reduzidos na circulação sanguínea. Isso faz com que o cérebro, através de várias reações químicas, aumente a produção do hormônio grelina, conhecido como o ‘hormônio da fome’, esclarece a nutricionista Michelle Troitinho, do Kurotel – Centro Médico de Longevidade & Spa, em Gramado. Nesse cenário o corpo passa a produzir mais saliva e aguçar o olfato.

Enquanto isso, a vontade de comer pode ser emocional, visual ou um sintoma desencadeado pelo organismo. Entre homens e mulheres, além das preferências do paladar, algumas características se diferem. Para entender melhor esses mecanismos conversamos também com o endocrinologista Claudio Ambrosio, especializado em metabolismo, e o médico nutrologista Bruno Takatsu, da Hōraios Estética.

1. Vontade de comer algo salgado
Essas vontades podem vir de estímulos visuais, olfativos e pscicológicos, mas fisiologicamente, também há a possibilidade de indicarem falta de micro e macronutrientes. “A vontade de comer alimentos salgados, pode estar relacionada a fadiga adrenal. As glândulas adrenais são responsáveis pelo ciclo do sono, imunidade, regulação do metabolismo do sódio, do potássio, da água, dos carboidratos e também regulação das reações do organismo ao estresse“, detalha Michelle. Portanto, quando essas glândulas não desempenham suas funções devidamente, o organismo pode sentir falta do sódio.

A indústria alimentícia também desempenha um função chave nesse fator. “Evidências científicas mostram que o sal adicionado no alimento e ou durante o processo de industrialização, pode ter um efeito neuroendócrino, que pode causar dependência, como uma droga ilícita” alerta a especialista do Kurotel.

2. Vontade de comer algo doce
Geralmente ligado às razões emocionais, os doces podem trazer prazer e funcionar como recompensa para nossos sentimentos. Para Claudio, além desse fator, alterações na tireoide podem influenciar. Enquanto isso, Michelle relaciona a serotonina e o paladar. “A serotonina, é um neurotransmissor que apresenta um papel importante no controle sobre a fome e saciedade. Alterações nos níveis de serotonina causam o aumento do desejo de ingerir doces e carboidratos refinados”, aponta a nutricionista. E, para estimular o equilíbrio desse composto, alimentos com triptofano, como grão-de-bicobanana e cereais, ajudam na produção do hormônio.
Nestes casos, Bruno alerta para dietas restritivas, que reduzem o consumo de certos macronutrientes, podendo resultar na deficiência de compostos produzidos pelo corpo a partir carboidratos, gorduras e proteínas.

3. A famosa TPM
Durante a tensão pós-menstrual, muitas mulheres manifestam vontade de se jogar em um pote de sorvete ou devorar uma enorme barra de chocolate. A flutuação dos hormônios nas fases do ciclo menstrual é a grande causa por trás disso, envolvendo desequilíbrios de estrógeno, progesterona, excesso de prolactina, deficiência dos nutrientes B3, B6, E, magnésio e do aminoácido triptofano, alterações na atividade das prostaglandinas, endorfina e serotonina. “As mulheres com Síndrome Pré-Menstrual (SPM) são mais sensíveis às variações do ciclo hormonal e dos neurotransmissores, por este motivo ocorre um aumento no consumo energético, na preferência por carboidratos e doces principalmente na fase lútea”, aponta Michelle.
Os níveis de serotonina também influenciam nesse processo. Como já dito, o consumo de carboidratos aumenta as várias reações químicas do organismo, melhorando os sintomas adversos.”Com isso, de forma natural e a compensar os sintomas da TPM, a pessoa pode ter a fuga no alimento, para se sentir melhor, compensando o mal-estar do momento”, afirma o endocrionolgista.

5. Ciclo menstrual
Durante todo o mês, a mulher passa por fases que alteram a emissão de substâncias do organismo. Na ovulação, proteínas saudáveis são ótimas para conter vontades (quase) inexplicáveis. “Devido à falta de ferro, as carnes vermelhas e vegetais verde escuro são bem-vindos para repor o nutriente. No caso do chocolate, o cacau é rico em magnésio, que ajuda no controle do inchaço, alivia dores de cabeça e cólicas”, indica a nutricionista.

6. Vontades entre os homens
Apesar de as mulheres enfrentarem maior variação hormonal devido à menstruação, o desequilíbrio entre os homens podem levar ganho ou perdade peso. “A alteração da testosterona no homem não implica diretamente fome no paciente, mas a diminuição do hormônio pode levar ao ganho de peso, por causar uma diminuição da massa muscular e, consequentemente, do metabolismo basal”, afirma Claudio. No processo inverso, a alta do hormônio leva ao emagrecimento e maior formação muscular.
Quanto mais músculos a pessoa têm, maior será a sua fome, uma vez que o corpo precisa de mais combustível para sobreviver. Isso também vale para as mulheres, contudo, naturalmente, a composição corporal dos homens é mais musculosa. A reposição do composto deve ser diagnosticada e estabelecida por um médico e a necessidade da ingestão de testosterona deve ir além de fins estéticos.

7. Vontades equivalentes entre os sexos
Com a industrialização dos produtos alimentícios, nos tornamos uma sociedade com paladares mais salgados e doces. Com os aditivos alimentares, estamos acostumados a abusar do glútenlactose, realçadores de sabor, corantes, açúcar e mais uma série de ingredientes desconhecidos pela maioria das pessoas. Esse costume faz com que as vontades apareçam cada vez mais ligadas a alimentos muito calóricos, artificiais e pouco nutritivos.
Aqui, também estão enlencadas as vontades oriundas das propagandas que nos atingem de forma direta e indireta, as pessoas que influenciam nossas escolhas alimentares e os gostos individuais.

8. Vale substituir uma vontade pouco nutritiva por outra?
Você já ouviu dizer que deve comer castanhas quando sente vontade de comer chocolate? Pode até ser que os nutrientes de alguns alimentos nos ajudem a suprir as necessidades nutricionais do corpo, porém, a pergunta que você deve sempre se fazer é: “a minha vontade vai passar ou aumentar depois que eu fizer a troca?”. Muitas vezes, a melhor saída é atender aos anseios da mente ao invés de substituí-los, a fim de não exagerar ao se deparar com a primeira tentação.
Além do equilíbrio alimentar como forma de combater distúrbios de ansiedade e depressão, Bruno indica algumas ervas para saciar o apetite. “Café e chás, como os de erva mulungu, camomila e maracujá, ajudam muito na ansiedade e no controle da vontade de comer doces. Outra dica é praticar exercícios físicos, já que faz com que a pessoa libere hormônios como adrenalina, noradrenalina e serotonina, substâncias que ajudam no controle do apetite”.

Ainda mais, para acalmar os ânimos que geram ansiedade, pode-se aproveitar os benefícios de diversos alimentos. “A ingestão diária de sementes oleaginosas, como as castanhas, nozes, amêndoas, avelãs, ovospeixesazeite de oliva extra virgem, que são excelentes fontes de ômega-3, 6 e 9, vitamina E e gorduras poli-insaturadas auxilia a regularizar o desequilíbrio hormonal e dos neutransmissores, gerando mais saciedade e melhora do humor”, esmiuça a nutricionista.
Já para a produção de serotonina, o triptofano aparece em bananas, nozes, feijõeslentilhas, grão-de-bico, aveiaabacatedamascoarrozintegral e mel. Além destes, cereais como sementes de abóbora, de girassol, gergelim, linhaça, chia e quinoa oferecem vitaminas do complexo B e são ricos em fibra, que atuam no metabolismo. “O final da tarde é o momento ideal para o consumo destes alimentos, porque ocorre uma redução nos níveis de serotonina, podendo aumentar a vontade de comer doces e carboidratos”, recomenda Michelle.

Editora Globo

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